quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Sobre a bactéria GFAJ-1

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a primeira poesia de uma nova era


coisa do demo
esse bichinho
feito de veneno
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sábado, 13 de novembro de 2010

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

A fantástica aparição de Badezir em Desterro



[Texto de pouco tempo atrás]

Nos últimos dias resolvi voltar a pintar. Deu-me na telha juntar coisa nova com uns quadros velhos e inventar um pseudônimo com mais nome de artista – aliás, bom mesmo é brincadeira completa –. Faria uma série com cenários apocalípticos das grandes cidades brasileiras. Ontem, montei o fim de São Paulo, pano branco e tinta preta. Pouco antes de dormir, puxei meu caderno vermelho camarada, era hora de batizar esse pintor capenga. Pensei em Duzo. Mas me lembrou o Pozzo, do Becket. Depois quis usar todas as vogais e saí com Badezi. Pois bem. Hoje fui ao centro comprar mais material para continuar a tríade. Eu sabia o que pedir, um pano rosa e tinta azul para o Rio de Janeiro, um pano verde-escuro e tinta ouro para Belo Horizonte. Eu também já tinha na minha cabeça um esboço das duas cidades em seus últimos momentos. O Rio seria varrido por uma onda que esbarraria, primeiro, em uma grande montanha; Belo Horizonte seria engolida por uma cratera gigantesca. Paguei a quem devia e cheguei a comentar com alguém sobre Badezi. No retorno ao lar, deixo tudo para ir ao computador verificar se qualquer pessoa se chama ou já se chamou assim. Acabo descobrindo algo estranho.

Eu nunca havia ouvido falar nos mistérios da Pedra da Gávea. Alguns historiadores afirmam que os fenícios habitaram terras brasileiras séculos antes de Cristo. Prova disso seriam inúmeras inscrições e objetos encontrados em todo o território nacional, inclusive algumas letras talhadas na lateral da tal montanha carioca, além de um rosto esculpido em seu topo. Por sua vez, outros acreditam que tudo não passa de besteira e que os traços na Pedra da Gávea resultaram apenas de erosão – ou de pereidolia –. De todo modo, o que se pode ler na rocha é o seguinte: LAABHTEJBARRIZDABNAISINEOFRUZT, o que, de trás para frente, como acontece nas línguas semíticas, redunda em: TZUR FOENISIAN BADZIR RAB JETHBAAL, sendo traduzido por: Tyro Phoenicia, Badezir primogênito de Jethbaal.

Verdade, mito, lenda, piração, vá lá. O fato é que existe uma suposição de que o tal rei Badezir tenha vindo para as nossas terras e aqui tenha deixado marcas na Pedra da Gávea. Fato também é que, desde ontem, eu estou com o Badezi indo e vindo, sem falar na imagem de uma montanha no Rio de Janeiro, uma prévia mental da pintura que agora já foi terminada e seca em um quarto da minha casa. 

Se eu um dia tive notícia dessas hipóteses históricas, confesso que não consigo me lembrar. Quando me deparei com as narrativas sobre Badezir, horas atrás, aquilo me soou absolutamente insólito. Uns diriam que posso ser a reencarnação do nobre fenício. Outros, que ele quer mandar uma mensagem para o povo brasileiro. Eu não acredito. Só acho que foi uma coincidência doida e que um bom anagrama vai me resolver o problema da encontrar aquele heterônimo. 


terça-feira, 12 de outubro de 2010

Sobre os 33 mineiros


Do ventre materno viemos à luz por um buraco. No mundo passamos boa parte da vida conhecendo buracos. No fim escapamos pelo último buraco: o longo túnel que dá na outra luz. O buraco serve como uma metáfora – até carnal – da saída normal de todas as coisas. Seu componente simbólico vigora na contenção das potências - boas ou ruins -, embora contra ele já se tenham inventado a cesariana, o bacanal, o homem-bomba e este grande inconformado: o claustrofóbico.  

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Pequena tese sobre André Breton


Embora Nadja não seja fruto da escrita automática, há uma boa dose de automatismo transmutada nos percursos ao acaso do casal por Paris. Esses passeios sem objetivo traduzem a deriva pelas palavras numa deriva pelas ruas. Assim como um texto automático rejeita quaisquer estruturas pré-ordenadas, Nadja revela uma feição anti-cartográfica que concreta a sopa de letras em uma aventura urbanística e arquitetônica.

E aproveito essa – mais uma – pequena tese para registrar um dos fragmentos mais singelos e marcantes que eu já li: ‘’Elle me dit son nom, celui qu’elle s’est choisi: << Nadja, parce qu’en russe c’est le commencement du mot esperance, et parce que ce n’en est que le commencement >>.’’

quarta-feira, 6 de outubro de 2010